terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A você que lê este escrito, peço que avise aos meus amigos que estou me afastando do mundo. Hoje percebi que existe algo maior a ser feito por mim. E precisa ser feito já. Não há tempo para satisfações, para arrumar as malas... Esta carta escrevo às pressas no caminho. Estou indo transformar a saudade em verbo.

Avise-lhes que não se preucupem comigo. Vou para uma casa em frente ao mar. Avise-lhes também que é inútil tentar um contato: levo nos bolsos apenas alguns bilhetes, fotografias e as lembranças de tudo que vivi. Pretéritos. Perfeitos.
(Não tente lhes explicar mais do que há nesta carta. Bastará quando você disser: ela amava mais do que se podia.)

Este é o meu último papel. O lápis jogarei fora assim que assinar a última letra do meu nome. Chega de literatura. Chega de tudo que me tira de mim. Será apenas eu e minha dor.

Alimentar-me-ei de sofrimentos. Do vazio deixado pelo fim do carnaval. Do choro contido no abraço de partida. Da saída sem despedida durante à noite. Do acordar sem ninguém ao lado. Da carta triste recebida em dezembro. Da súbita lembrança na tarde de terça-feira. Do luto. Do aperto no peito. Da angústia. Da falta de sentido no voltar à rotina.

Beberei agridoces memórias. E embriagada cederei às dúvidas: Será que ainda se lembram de mim? Será que ainda me amam?

Peça-lhes que por favor não tornem verdades os meus medos; que não me abandonem, pois eu jamais os abandonarei.

Farei dos meus amores a minha rotina: pela manhã pensarei na família, à tarde lembrarei dos grandes amigos, (no pôr-do-sol tentarei suicídio) e a noite guardarei para as minhas poucas paixões.

Também reservarei uma parte do meu dia para você. Certamente a madrugada, quando tudo é incerto. Lamentarei ter sido tão tola em entregar minhas palavras assim. Entregar-me assim. A uma incerteza. Te amarei. Te odiarei. Te farei personagem da minha mente. Suplicarei para que faça o que peço (e no fundo para que também me ame). Agradeço sendo etarnemente sua escrava, meu leitor.

Dito isso você também poderá entender. Entender porque preciso me afastar e criar esse verbo. Conjugar em todos os tempos e em todos os modos. Dia após dia. Até o fim da minha vida. Até a hora em que sairei a passos lentos da varanda, dando as costas para o mar, deitarei numa cama macia e finalmente... Morrerei de saudades.

Vitória Eugênia Oliveira Pereir