domingo, 25 de novembro de 2012

Pensei em lhe deixar um poema
embaixo do jarro de flores;
Grudar uma canção de Bethânia
na porta da geladeira
– como que avisando:
meu avião partiu às onze
e algo ficou a ser dito.

Mas resolvi sair sem rastros,
porque no último minuto
entendi que, entre nós dois,
a palavra vela
e o silêncio revela. 

A palavra é o que queremos ser
e o silêncio
é o que humildemente
podemos ser. 

E, hoje, o que podemos
é isso:
um amor
que já foi.

Mas no tempo que estive a sua porta eu cheguei a lhe amar


Eu vinha caminhando
de um lugar
que não lembro bem.

Vinha caminhando e avistei
sua casa.

Pensei em apenas lhe saudar
com um sorriso
e continuar seguindo...
Porque eu nasci para caminhar.

Mas sua casa tinha paredes
da mesma cor
que as minhas teriam
se eu tivesse um casa.

E resolvi parar.

Bati três vezes à porta:
três vezes lhe chamei
e três vezes esperei.

Talvez, em uma quarta batida, você
acordasse do cochilo e
viesse
me receber na varanda.

Mas na quarta batida eu
começaria a acreditar que sempre
caminhei para lhe conhecer.

E eu,
eu nasci para
simplesmente
caminhar.

Por isso, tornei à estrada
e continuei andando.