quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Não há vaga

Vagalume
Vagabundo
Vagando
[pela serra

No meu primeiro poema rimado
não há vaga para a rima
para a lógica
Parabólica antena,
embaixo do seu fio passa um rio
em cima do seu rio passa uma ponte
de safena.

(Até o verso que eu tirei da artéria
atravessa
Sai venoso.)

No meu primeiro coração rimado
só há vaga pro
veneno meu coração farpado
não há vaga para príncipe,
nem fim
O errei é uma rainha
e o herdeiro do meu erro
é um princípio sem princesa.

v
abril, 2008

*Pelo dia 14 de novembro
**Tentando diversificar os textos.

O eterno feminino

Sei que segunda-feira é um dia filha da puta pra você, mas esse seu sumiço é injusto. É muito injusto comigo. Primeiro porque você some logo quando eu estou de férias, e a programação matinal da TV é uma merda – pausa para sua fala: “você, acordando cedo?”. Insônia, baby. Culpa sua.

Depois porque faz séculos que não escrevo, mas essa ansiedade está me matando. Ou eu ponho no papel qualquer frase confusa ou acumularão centenas de ligações perdidas nesse celular que você não atende.

E terceiro porque – qual é, hein? Fantasiei tudo o que a gente viveu? Porque não, não venha me dizer que as coisas estão normais. Está tudo fora do lugar. Cadê aquele desejo incontrolável? A vontade de passar a noite juntos? Estar perto, falar, tocar, beijar. O dia era pequeno pra nós dois, lembra? A gente tinha que negociar com o relógio. Uma horinha, só mais uma horinha, antes que o sol amanheça o dia e suma a carruagem da cinderela.

Mas agora, não. Agora o relógio faz troça com a minha cara. Passam eternidades inteiras e o minuto não passa. Parece que é o tic tac dizendo: não era tempo que você queria? E tome tempo eu esperando o telefone tocar, a gente se ver e fim: felizes para sempre.

Eu sei que aconteceram algumas coisas, ok? Sei que foi tudo muito pesado e leva tempo pras idéias acalmarem na cabeça. Mas sumir assim é crueldade. Deveria ter desconfiado que você vingaria aquele fim de semana na praia. Se é isso, você conseguiu. Você conseguiu, valeu? Mas não continua com esse carinho morno porque dói demais.

Não vivi isso tudo sozinha, a gente tinha uma rotina, uma cumplicidade, um hábito, aí vem você, pede a conta e vai embora? E ainda me chama de meu amor pra insistir que as coisas estão normais. Pere aí. Diga logo que eu tô pirando e preciso mudar meu nome pra D. Maria I, a Rainha Louca.

Não tô pedindo pra você voltar num cavalo branco e ser o amor da minha vida. Mas, lembra? Não corte minha voz no ar que é sacanagem. Você não me deixa falar. E olhe que eu esperei, esperei você dizer que não dá mais, que já não tem graça, que eu não sou a mulher segura que você achou ser, que eu não faço falta, que era coisa de momento, que eu tô cobrando demais, sei lá. Qualquer coisa que explique essa sua falta de desejo, essa mudança, essa indiferença.

Mas, tudo bem. Band-aid no coração, como diz o Caio. Eu deveria ter avisado: não faz isso que eu larguei a terapia...

v
janeiro, 2010