Todos os dias, muitos passarinhos vinham cantar à minha
janela. Pássaros verdes, amarelos, vermelhos, azuis. Mas foi o passarinho da
asa quebrada que eu escolhi para ser meu passarinho. Meu passarinho tinha um
canto triste – e por isso eu o amava tanto. Meu passarinho, com sua asa
quebrada, voava baixinho... Ele não sofria por isso. Mas eu sofria muito. E se
meu passarinho tentasse voar alto, caísse e morresse? Passei meus dias tentando
consertar aquela asa. Eu só queria que eu e meu passarinho
pudéssemos voar alto, incrivelmente alto. Tentei de tudo. Até que contratei o
melhor veterinário e contei de meu passarinho. O veterinário me disse que se
algum dia eu explicasse a meu passarinho que ele não podia voar alto, ele
pararia de cantar. E se ele parasse de cantar, ele morreria. Fiquei dilacerada.
Então era isso, eu e meu passarinho nunca voaríamos alto. Mas nem assim eu
desisti de salvá-lo. Continuei tentando soluções. Eu acreditava que, de alguma
maneira, com muito esforço, eu e meu passarinho finalmente voaríamos juntos. Acontece
que, certo dia, ele me convidou para as alturas e não havia o que fazer: ou ele
voava alto e morria ou ele não voava, parava de cantar, e morria. E foi o que aconteceu.
Meu passarinho tentou voar, caiu e morreu. Agora, quando os pássaros coloridos
vêm cantar à minha janela, eu choro, choro, choro. Não por saudades de meu
passarinho, mas porque esses pássaros que aí fora cantam não têm a asa quebrada
para que eu possa tentar salvá-los.
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*Por 14 de Janeiro