quarta-feira, 1 de julho de 2015

Poema de maré e seca

Tudo quieto
e seco:
não chove
em meu coração.

Parece pacífico
porque não há sangue
mas não sangra porque
nada escorre:
em peito agreste,
lágrima não pinga -
vira poeira.

Coração caatinga
castigado
tem sede.

Boca quer gritar
pedir ajuda
mas saliva sem água
é cimento
que a mantém
cerrada.

Coração em crosta
de açude enrugado
espera vazio
cair a seiva em suas
veias abertas,
mas céu nada oferece
senão fogo
dissipado no ar.

Coração febril
lateja
sob o sol em brasa
de sua terra despovoada.

Sozinho,
aprende que viver é
resistir.

E morto, mudo, magro
sobrevive.

Coração deserto
é flor sem viço de um jardim
de ossos.
A única fonte que o umedece
é a fé nos versos
do profeta:

O ser tão vai vir amar
e amar
virá a ser tão.

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