quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Filha do Verso

Bendito seja o Verso
que me fez fruto de seu ventre.

Bendito seja Aquele
que me colheu ainda verde,
me alimentou com verbos
e me aliciou com rimas.

Bendito seja o meu Pai
que em minha parca mesa
jamais deixou faltar
a Palavra Nossa de cada dia.

Bendito seja
O que jamais desistiu de mim
mesmo quando eu, dadaísticamente,
desisti Dele.

Bendito seja
O que pacientemente entendeu meu hiato
e religiosamente me apresentou os ditongos,
tritongos, quadratongos, pentatongos!

Bendito seja
O que com as pedras no meio do caminho
me construiu inteira e depois disse:
agora desconstrói.

Bendito seja O que antes havia me ensinado
como é possível fazer da palavra concreto
abstrato.

Bendito seja O que me revelou a liberdade
e a possibilidade de ser
eu
lírico.

Você lírico, qualquer um lírico.

Bendito seja
O que com um lápis
me deu o mundo.

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