sábado, 20 de junho de 2015

Pode entrar (Pequena crônica noturna)



Numa madrugada chuvosa, fui à cozinha preparar um chá para esquentar os sonhos... e reparei que havia esquecido a janela aberta. Me aproximei para fechá-la, mas um movimento nas plantinhas que povoam sua beirada me assustou. Fui surpreendida pela presença de um bicho  visita tão rara na concreta altura dos apartamentos. 
Era uma borboleta, que parecia respirar assustada. Meu reflexo urbano foi o de colocá-la para fora, mas, de repente, notei a chuva, me dando conta de que ela procurava um abrigo. Então, senti que não poderia espantá-la: noites de frio são noites de solidariedade; e resolvi deixar a pequena voadora no acolher das minhas plantas.
Quando o susto passou, me flagrei orgulhosa, como se a natureza tivesse intuído que, entre tantas janelas, a minha casa é um lugar seguro para se abrigar.