Chove lá fora.
(a rua alaga)
A cidade se declara daltônica:
eu já nem lembro do azul.
Chove ritmadamente.
Chove baixinho,
chove triste...
Mas a chuva não é um choro,
é um samba de Cartola!
E chora
E samba
E chove
Então –
então aquela convulsão
que me tirou as forças,
aquela convulsão...
Não era frio?
e nem era falta de glicose no sangue?
Era o meu corpo
ensaiando os passos de
uma bela gafieira?
Pinga o pandeiro
Chove melancolia
o vento geme quando a morena requebra molhada
Canta o azedo da vida
Chora o mar
Sinto-me t-r-e-m-e-r
Será hipotermia?
O medo do cinza?
O amor pelo samba?
Sou dançarina
ou convulsa?
Preciso urgentemente
da mais doce sobremesa.
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