salvar as mulheres na luta
se tua própria mulher
você trata como puta,
quando me deita em sua cama,
recita versos pra dizer que ama
e no dia seguinte
me paga com silêncio.
Pois veja, homem,
tire o seus óculos e veja
me veja.
Tem uma mulher em sua frente
que sente
que sofre
que quer mais do que data no calendário e
igualdade de salário
Tudo isso vale o grito,
mas igualdade mesmo
é ter um mundo que me veja.
Que veja as marcas dos tapas
que eu levei fora da transa,
por um homem que não me bate
mas que ignora meu olhar,
joga fora minha doçura,
não assume que procura
e vai embora sem enxergar que abandona.
Igualdade é viver em um mundo
que não me estupre desde pequena
com matemáticas absurdas sobre o que dizem ser amar.
Onde pra ter
eu tenho que negar,
e pra negar
eu tenho que fingir aceitar.
No fundo, o que esse homem
tá tentando me ensinar
é que eu não tenho direito de querer.
Tenho que calar
e aprender a encantar
sendo bonitinha
e covarde,
porque tenho que me deixar convencer
que minha paixão é loucura
e tenho que saber engolir
quando ele me faz ferir
com esse papo pós moderno
de que pode fugir porque não tem compromisso sério.
Nem parece o mesmo homem
que de bandeira levantada
defende respeito, compromisso e feminismo
E que tanto fala em companheirismo
sem verdadeiramente compreender
que ser companheiro é mais do que ideologia
que revolucionar é mais do quer romper burocracia.
e que acompanhar é mais do que marchar.
Ser companheiro é
não ter receio de cuidar
dessa que você invade com um beijo
e depois some,
dessa a quem você estende a mão
pra que se entregue nua
e depois despreza.
Não adianta, homem,
gritar coragem nas ruas,
se em teu próprio asfalto é você
que tem medo
e não sabe pedir ajuda.
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