segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Retrato de uma alma abandonada



Eu? Eu entardeci muito cedo. Mal despontara a aurora de minha criança e já era tempo de recolher-se a casa... Junto ao sol, também se pôs minha leveza e credulidade pueril, restando em mim apenas a terrível melancolia do lusco-fusco. É por isso eu ainda nem completara a décima primavera, mas então padecia com a tristeza que abate a cidade no limbo dos astros - quando já findou o dia, mas a noite ainda não veio.
Nessas horas busquei ansiosa um olhar cúmplice que guardasse ao fundo, sempre ao fundo, um sutil desespero: o desespero de existir e saber que se existe. Mas as crianças são por demais distraídas e os adultos fugiam de minha pupila como quem apressa o passo para ignorar o pedinte. Tudo que desejava não era nada além de um abraço apertado, um longo abraço, que num suspiro quente sanasse o meu vazio. Enfim eu pude descobrir que a outra face do desespero é a solidão: e restei sozinha, mendiga da alma...


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